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Do coronavírus à crise da AIDS: Estigmas e liberdades em tempos de enfermidades

  • Foto del escritor: Human Rights Post
    Human Rights Post
  • 18 jun 2020
  • 7 Min. de lectura

Actualizado: 24 jun 2020

Autor: Ivan Bassères

Español abajo

English below


Há décadas a comunidade LGBTQIA+ se reinventa e é convidada a expandir suas fronteiras para abrir lugar a novas relações e existências antes ocultas. Assim também é com o novo coronavírus, um fenômeno que ainda estamos começando a entender por óticas que sempre deixam tantas outras óticas de lado. Por isso, em um mês de junho como o de 2020, na encruzilhada da pandemia com o movimento Black Live Matters, falar de orgulho LGBTQIA+ só pode ser um exercício de empatia, de uma reflexão em busca de conexão.


Também toda enfermidade é, aos olhos de seu portador, um fenômeno tão íntimo que foge a prescrições genéricas. O que falam os sintomas de um enfermo são só a ponta de uma espiral de emoções que se passam da pele para dentro, uma jornada da náusea à exaustão, na esperança de acabar em cura. Durante muito tempo, a AIDS era assim, uma doença sofrida, incurável, agravada pelos danos impostos sobre cada um por um juízo social implacável, um estigma que muitos da comunidade LGBTQIA+ pagaram com a própria vida, como contam documentários como Como Sobreviver a uma Praga e Carta para Além dos Muros. Se hoje a ameaça do vírus HIV já não é mais nem a sombra do que foi nos anos 80, os traumas sentidos por aquela geração ainda reverberam e ganham outros sentidos no século XXI, ainda tão marcado pela homofobia, pela transfobia e pela negação da existência de tantos outros que ousam fugir à norma.


Agora, em 2020, enquanto esperamos por uma vacina contra a Covid-19, como até hoje esperamos a vacina contra a AIDS, somos chamados a nos proteger do novo vírus, sem descuidar dos que à nossa volta já o contraíram. Somos chamados a restringir as nossas liberdades em nome da nossa saúde e a dos outros, em um sacrifício que desconhece barreiras de gênero, sexualidade, raça, classe e idade – mas que é inegavelmente mais intenso à medida das nossas vulnerabilidades. Somos chamados a manter as distâncias, restringir os contatos, tapar as mucosas, suprimir intimidades, evitar a troca de fluidos e seguir uma cartilha de cuidados e temores que, guardadas as proporções sempre cabidas, fazem lembrar os traumas do surto da AIDS que ainda povoam o imaginário de tantos de nós.


Hoje, assim como nos anos 80, muitos ainda enfrentam o descaso de governos face à doença e a ausência de protocolos de resposta à crise – que é sanitária, mas também social. Se hoje a comunidade gay tem acesso a exames e tratamentos que praticamente neutralizam a letalidade do HIV, em muitos casos de forma anônima e gratuita, se transcendemos tabus para estabelecer um paradigma de segurança e informação ao redor do sexo, devemos muito à geração de 80, dos profissionais da saúde comprometidos com a vida aos ativistas que enfrentaram a indiferença em nome do seu direito à saúde e à dignidade.


Por isso, neste mês do orgulho, é merecida a homenagem aos heróis do passado que, ao lutarem por seus direitos fundamentais, buscavam nada mais do que o reconhecimento da sua própria humanidade. E se hoje a crise não é só pertinente a este ou aquele grupo, ela certamente precipita velhas e novas desigualdades. Enquanto é tempo de fazer valer a oportunidade de união que o desafio a frente nos oferece, fundamental é validar as dores e angústias únicas que cada um de nós experimenta, mas sempre amparados uns nos outros.


ESPAÑOL


La comunidad LGBTIQ+ se ha reinventado durante décadas y ha sido invitada a expandir sus fronteras para dar paso a nuevas relaciones y existencias previamente ocultas. Lo mismo ocurre con el nuevo coronavirus, un fenómeno que todavía estamos comenzando a entender a través de la óptica que siempre deja de lado tantas otras. Es por eso que, en junio 2020, en la encrucijada de la pandemia con el movimiento Black Live Matters, hablar sobre el orgullo LGBTIQ + solo puede ser un ejercicio de empatía, una reflexión en busca de conexión.


Además, cada enfermedad es, a los ojos de su portador, un fenómeno tan íntimo que escapa a las recetas genéricas. Lo que hablan los síntomas de una persona enferma son solo la punta de una espiral de emociones que pasan de la piel hacia adentro, un viaje desde las náuseas hasta el agotamiento, con la esperanza de terminar en curación.

Durante mucho tiempo, el SIDA fue así, una enfermedad sufrida e incurable, agravada por los daños impuestos a cada uno por un juicio social implacable, un estigma que muchos de la comunidad LGBTIQ + pagaron con sus vidas. Si hoy la amenaza del virus del VIH ya no es la sombra de lo que era en la década de 1980, los traumas experimentados por esa generación aún reverberan y adquieren otros significados en el siglo XXI, todavía tan marcados por la homofobia, la transfobia y la negación de la existencia de tantos otros que se atreven a escapar de la norma.


Ahora, en 2020, mientras esperamos una vacuna contra Covid-19, ya que todavía esperamos la vacuna contra el SIDA, estamos llamados a protegernos del nuevo virus, sin descuidar a quienes nos han contraído. Estamos llamados a restringir nuestras libertades en nombre de nuestra salud y la de los demás, en un sacrificio que ignora las barreras de género, sexualidad, raza, clase y edad, pero eso es indudablemente más intenso a medida que crecen nuestras vulnerabilidades. Estamos llamados a mantener distancias, restringir los contactos, cubrir las membranas mucosas, suprimir las intimidades, evitar el intercambio de líquidos y seguir un folleto de atención y temores de que, manteniendo las proporciones siempre ajustadas, nos recuerden los traumas del brote de SIDA que aún pueblan el imaginario de muchos de nosotros.


Hoy, como en la década de 1980, muchos aún enfrentan la negligencia de los gobiernos frente a la enfermedad y la ausencia de protocolos para responder a la crisis, que no es solo de salud sino también social. Si hoy la comunidad gay tiene acceso a pruebas y tratamientos que prácticamente neutralizan la letalidad del VIH, en muchos casos de forma anónima y gratuita, si trascendemos los tabúes para establecer un paradigma de seguridad e información sobre el sexo, le debemos mucho a la generación del 80 , desde profesionales de la salud comprometidos con la vida hasta activistas que enfrentaron indiferencia en nombre de su derecho a la salud y la dignidad.


Por esta razón, en este mes de orgullo, se merece un homenaje a los héroes del pasado que, al luchar por sus derechos fundamentales, no buscaron nada más que el reconocimiento de su propia humanidad. Y, si la crisis actual no solo es relevante para este o aquel grupo, ciertamente precipita las viejas y nuevas desigualdades. Si bien es hora de afirmar la oportunidad de unidad que nos ofrece el desafío que nos espera, es fundamental validar los dolores y ansiedades únicos que cada uno de nosotros experimenta, pero siempre apoyados el uno por el otro.


ENGLISH


The LGBTQIA + community has reinvented itself for decades and has been invited to expand its borders to make way for new relationships and existences previously hidden. So it is with the new coronavirus, a phenomenon that we are still beginning to understand through optics that always leave so many other optics out. That is why, in a June like 2020, at the crossroads of the pandemic with the Black Live Matters movement, talking about LGBTQIA + pride can only be an exercise in empathy, a reflection in search of connection.


Also, every illness is, in the eyes of its bearer, a phenomenon so intimate that it escapes generic prescriptions. What the symptoms of a sick person say are just the tip of a spiral of emotions that pass from the skin inward, a journey from nausea to exhaustion, in the hope of ending up in healing. For a long time, AIDS was like this, a suffered, incurable disease, aggravated by the damages imposed on each one by an implacable social judgment, a stigma that many of the LGBTQIA + community paid for with their lives, as documentaries like How to Survive a Plague and Charter Beyond the Walls. If today the threat of the HIV virus is no longer even the shadow of what it was in the 1980s, the traumas experienced by that generation still reverberate and gain other meanings in the 21st century, still so marked by homophobia, transphobia and the denial of existence of so many others who dare to escape the norm.


Now, in 2020, while we wait for a vaccine against Covid-19, as we still expect the vaccine against AIDS, we are called to protect ourselves from the new virus, without neglecting those around us who have already contracted it. We are called to restrict our freedoms in the name of our health and that of others, in a sacrifice that ignores barriers of gender, sexuality, race, class and age - but that is undeniably more intense as our vulnerabilities grow. We are called to maintain distances, restrict contacts, cover mucous membranes, suppress intimacies, avoid fluid exchange and follow a booklet of care and fears that, keeping the proportions always fit, remind us of the traumas of the AIDS outbreak that still populate the imaginary of so many of us.


Today, as in the 1980s, many still face the neglect of governments in the face of the disease and the absence of protocols for responding to the crisis - which is not only health but also social. If the gay community today has access to tests and treatments that practically neutralize the lethality of HIV, in many cases anonymously and free of charge, if we transcend taboos to establish a paradigm of safety and information around sex, we owe a lot to the generation of 80 , from health professionals committed to life to activists who faced indifference in the name of their right to health and dignity.


For this reason, in this month of pride, homage is paid to the heroes of the past who, in fighting for their fundamental rights, sought nothing more than the recognition of their own humanity. And if the crisis today is not only relevant to this or that group, it certainly precipitates old and new inequalities. While it is time to assert the opportunity for unity that the challenge ahead offers us, it is fundamental to validate the unique pains and anxieties that each of us experiences, but always supported by each other.



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